sábado, 2 de maio de 2009

ENTRE O SOM E O DOM

O dom das línguas, praticado e vivido em muitas Igrejas de hoje e até pela televisão é um dos mais controvertidos temas das Igrejas cristãs. Não é novidade. No início do cristianismo veio forte e precisou ser regulamentado, mas, como em tudo, a regulamentação foi obedecida por alguns e desobedecida por outros. Montano e dezenas de outros pregadores teimaram em continuar orando do seu jeito. Outros aceitaram ouvir a Igreja. Hoje, Igrejas que o praticavam na televisão estão deixando de fazê-lo e circunscrevendo-o às suas comunidades e assembléias, onde há intérpretes e onde ele não é induzido. As autoridades intervieram. Noutras, apesar dos documentos falarem com clareza, a prática corre solta. O apóstolo Paulo é freqüentemente desobedecido. Tem sido uma fonte de conflito, críticas, mágoas e desobediência frontal.

Há o dom das línguas que não pode ser negado. Ele existe e cumpre uma finalidade. Há o som de língua estranha que, em muitos casos não é nem nunca foi um dom de Deus. É apenas som e marketing de quem descobriu que isto impressiona e ajuda algum projeto. Ora, se existe o dom das línguas também há o de interpretação. Mas muitos que dizem ter o dom das línguas se rebelam contra a palavra do intérprete. Firam ter um dom e negam o do outro. O conflito começa por aí. Quando a palavra da autoridade ou do interprete teólogo só vale se aprovar aquele som como dom, alguma coisa está errada com aquele som. JustificarO dom pode produzir um som, mas nem todo o som é fruto do dom. Há dons que não geram nenhum som estranho. O Espírito Santo pode levar alguém a cantar, com clareza, com harmonia e num ritmo que leva á prece. Na maioria das vezes, este dom não vem em língua estranha. Nem por isso deixa de ser um dom. Por isso, nem os que falam em línguas têm o direito de negar que as outras linguagens são dadas por Deus, nem os que não as falam têm o direito de negar que alguém está realmente sendo movido por Deus ao falar daquele jeito. Mas todos temos o direito de questionar, fazer perguntas e mostrar estranheza, quando a prática vai contra o que disse Paulo e contra o que diz a Igreja.

Um músico não pode descartar a crítica de um cantor ou de um ouvinte, sob o argumento de que ele não sabe do que está falando, nem tem o direito de falar, porque não entende de música. Não estudou, mas sabe quando é musica que toca ou que não toca a pessoa. Não adianta chamá-lo de ignorante ou de sujeito que resiste á cultura. O fato é que a tal musica não disse a que veio e serve apenas a um grupinho fechado.
Pela mesma razão, quem ora ou canta em línguas não pode usar o argumento de que o critico é ignorante, não experimentou ou resiste ao Espírito Santo. Já lhe ocorreu que este dom tem quer vir revestido de humildade? Se alguém está resistindo, deve ser porque o que Paulo e as autoridades pediram não está sendo levado a sério. Talvez esteja havendo mais som estranho do que língua ou dom!

Se, toda a vez que abre a boca para orar em línguas, aquela pregadora, diz sempre as mesmas sílabas e faz mesmíssimo som, um cristão tem o direito de perguntar se aquilo é som ensaiado, decorado, artificial para efeito e marketing ou se é mesmo um dom. Quem acha que tem o dom, deveria rever se o som que emite é apenas som igual ao de sempre, ou se é dom. No dom das línguas faz sentido crer. No mesmo som repetido o tempo todo, fica difícil crer. A Bíblia nos ensina que Deus é criador e criativo. Alguns irmãos não passam essa idéia, quando oram em línguas. É sempre o mesmo som feito daquelas 12 ou 14 sílabas. Se querem ser respeitados, respeitem! Não joguem qualquer som na televisão ou no rádio sem nenhuma orientação prévia ou posterior, exigindo que todo mundo engula aquilo como dom. Cabe a eles mostrar que não é apenas um som. Que leiam Paulo, os documentos de Roma, da CNBB e que decidam se é justo espalhar aquele som por todo um país, quando sabemos que nem todo mundo está preparado para ouvi-lo. Que se saiba a diferença!

Pe. Zezinho, scj

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