Outra intuição acertada foi associar, deste o início, a realização do Grito dos Excluídos com a Romaria dos Trabalhadores. É muito salutar vincular a independência do país com a causa do trabalho, com todas as implicações que esta associação coloca para a nação.
Outra providência que veio dar consistência e garantir apoio estratégico à realização anual do Grito dos Excluídos, foi o fato de ele ter sido assumido oficialmente pela assembléia da CNBB, ainda em 1996, como parte integrante do seu plano de pastoral. A partir daí, o Grito passou a fazer parte da agenda pastoral da CNBB, mesmo deixando em aberto a maneira de ser realizado em cada diocese.
A vinculação com a Romaria dos Trabalhadores associou o Grito ao contexto do Santuário de Aparecida, que assim se tornou referência nacional a estimar a realização do Grito em outros lugares também.
Estes detalhes explicam por que o Grito “veio para ficar”, em outra alusão à biografia de D. Pedro Primeiro!
Sua identidade histórica é garantida pela manutenção de sua primeira bandeira, erguida ainda em 1995, com a afirmação enfática de um critério ético indiscutível: “a vida em primeiro lugar!”.
Mas a este apelo, cada ano se acrescenta outra motivação, que venha ao encontro do momento que o Brasil vive, ou do ponto estratégico que é preciso acionar, ou da denúncia candente que se deve fazer.
Por exemplo, quem não sente, neste ano, vontade de gritar contra o clima de corrupção que tomou conta do Senado?
Mas desta vez o Grito prefere nos convocar para uma ação positiva, como é a organização popular, em vista de urgir transformações decisivas para a vida da nação. Daí o lema do Grito deste ano: “A força da transformação está na organização popular”.
É um apelo que tem sempre sua validade, e parece desprovido de mordência. Mas se olhamos um pouco melhor o clima político que vivemos agora no Brasil, percebemos que este alerta chega em boa hora, e é urgente entender o seu recado.
Estamos em tempo de refluxo da cidadania. Corremos o risco de incidir num sério equívoco. A atuação mais pontual do Estado, seja no atendimento de demandas sociais básicas, como na intervenção mais ativa na macroeconomia, não pode acomodar a cidadania, nem desmobilizar sua articulação social e política.
A cidadania precisa manter o Estado sob suas rédeas, para que ele cumpra os objetivos que a cidadania lhe confere. Quando esta dinâmica se inverte, a cidadania se atrofia, e o Estado começa a exorbitar de suas funções.
Desta vez, o Grito dos Excluídos nos alerta para a importância da organização popular. Vale a pena gritar esta verdade aos quatro ventos de nossa Pátria, na data de sua independência!
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