Essiib desfaz-se numa longa e gostosa risada e sem entender o arrebatamento extasiante do seu namorado Luzelind se deixa envolver-se pela aquela alegria indescritível de Essiib e sorriem felizes como a eternidade do Amor em Vinnícius.
A infelicidade de Narciso perdura por geração e geração por via normal dos destinos da humanidade através dos indícios narcisistas da adolescência, isto é, em muito menos graus de agressão à vida; assim como, o inexorável destino de Essiib, quando descobriu no limiar da sua adolescência, ao espelho, que a sua fisionomia não seguia o mesmo padrão de estética, em vigor, regido pela grande maioria dos seus amigos. Eis que Essiib cria no âmago do seu íntimo uma intransponível barreira de traumas e preconceitos de si.
Essiib era brasileiro. E em qualquer lugar do mundo em que chegasse, estava explícito em sua face o retrato de uma raça e, ao mesmo tempo, a denúncia da sua raiz genealógica na miscigenação do seu povo: um pouco de índio, de negro, de branco era Essiib. Uma união de raças de nome Essiib.
Longe da beleza de um Narciso e mais distante ainda da fealdade da Fera, Esssiib era um garoto normal como todos os garotos da sua idade em qualquer lugar do planeta, mas que entrava na sua adolescência preso aos paradigmas de estética; por se preocupar exacerbadamente, com os seus traços facial, onde o que mais o incomodava era o seu lábio inferior o qual se avantajava em espessura e queda ao superior que, em verdade seja dito, em nada se distinguia um do outro. Uma distinção puramente explicada hoje por Freud. Mas que muitos Essiibs passarão despercebidos mesmo. Essiib, ao espelho, viu-se um Narciso às avessas e criou repulsa, como aquela Fera, querendo se excluir de si numa inocência desnarcisista.
Certa vez, Essiib por descuido viu-se ao espelho e olhou-se no espelho dos seus olhos; e os olhos nos olhos, no espelho de si, eliminaram o que era de fealdade existente em si: os lábios grossos, o nariz achatado, os cabelos crespos, a pele morena ora parda em harmonia da perfeição estética se fez no seu mais profundo íntimo. E os olhos nos olhos. O espelho no espelho de si atingiu o infinito da sua beleza interior, mas a ironia desfez o reflexo na primeira esquina do destino e quebrou o espelho, quando Essiib se desentendeu com um colega seu de escola que o xingou de beiçola. Essiib tomado de cólera retribuiu, não exatamente com xingamentos, mas através de socos e ponta-pé investindo-lhes contra o colega indefeso, que sem esperar por repetina reação, fica caído ao chão. Não se sabe como. Essib levara um soco na boca.
Em casa, Essiib no banheiro ver-se ao espelho e descobre no seu rosto uma mudança radical. Estranho. Achou-se muito mais belo! O soco que levara fez melhorar a sua fisionomia. O seu lábio superior se igualara ao seu lábio inferior. E os lábios nos olhos dos olhos do espelho de si se harmonizaram na estética da beleza vigente pela humanidade e a sua adolescência transcorreu bela e maravilhosamente, quando assim arrumou a sua primeira namorada.
Então crescido, Essiib ao dezoito ainda levava nas entranhas do seu âmago alguns resquícios do fugaz trauma da adolescência, mas nada de relevante que viesse a atrapalhar o seu bom relacionamento com as garotas.
Pois bem, foram as suas amizades, acima de tudo femininas, que o fizeram enterrar àquelas preocupações bobas criadas pela adolescência; e Essiib, agora, desfruta dos seus amores sem receio e muito mais seguro de si, porque adquirira com Luzelind, sua namorada, uma intimidade extraordinariamente bela e segura para discorrer das coisas pessoais de forma bastante recíproca. Luzelind que é uma mulher extrovertida e que nunca hesita em fazer questionamento sobre a sua própria pessoa a Essiib, se ele a acha uma mulher atraente, bonita, simpática. Como ele a vê com relação a outras mulheres, se isso, se aquilo até se sentir satisfeita do seu ego. Fazendo, portanto, despertar o monstro que hibernava a tempo dentro de Essiib, para assim, lhe arrebatar o interesse de também querer matar as suas curiosidades adormecidas nas suas intimidades mais latentes e jamais reveladas a ninguém que só agora vem à luz, em nome também, da intimidade à Luzelind.
Titubeante que é, Essiib procrastina por várias vezes a oportunidade de revelar a Luzelind o seu trauma de adolescente. Até que um dia deu-se o desfecho e Essiib foi diretamente à ferida exteriormente cicatrizada porque no íntimo ela passava a existir naquele momento; mesmo ao lado da beleza recíproca de mulher que era Luzelind. Mulher loira, bonita, atraente, extrovertida e sempre feliz como as noites de lua cheia. Irradiante! Essiib indaga Luzelind sobre o que ela vê de mais disforme em seu rosto. Sincera e direta que é
Luzelind responde-lhe que é o nariz. Num repente de luzente prazer Essiib desfaz-se numa longa e gostosa risada e sem entender o arrebatamento extasiante do seu namorado Luzelind se deixa envolver-se pela aquela alegria indescritível de Essiib e sorriem felizes como a eternidade do Amor em Vinnícius.
Essiib se sente um homem muito Feliz.
21.07.97 - MC GARCIA - Poeta e Filósofo
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