quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ADVENTO

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A VINDA DO REINO

Começa um novo tempo,
ainda que não tenha acabado o ano



       Estamos no ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e dez! Antes de Cristo e depois de Cristo! Assim se referem as indicações históricas. Mesmo quem não acredita n'Ele continua datando os acontecimentos a partir do Seu nascimento. A Ele a honra e a glória, Aquele que é o primeiro e o último, o princípio e o fim, Alfa e Ômega. E nós cristãos consideramos ano litúrgico o tempo que vai do primeiro domingo do Advento à Solenidade de Cristo Rei. Começa um tempo novo, ainda que o calendário não tenha chegado ao dia trinta e um de dezembro. Quando janeiro vier, já estaremos imbuídos de uma nova mística, que vem do Alto!

       A vinda do Reino, a realização da vontade do Pai e o reconhecimento da santidade de Seu nome se encontram presentes na oração mais perfeita, ensinada por Jesus, o Pai-Nosso. Temos em nós o desejo do infinito, o sonho da perfeição, para nunca nos saciarmos com algo que seja menos do que Deus. Sim, é o infinito do amor que nos atrai, para que caminhemos de perfeição em perfeição, até chegar à plenitude.

       O Reino de Deus está presente no mundo sem que precisemos buscar sinais estrondosos de sua presença. Basta-nos olhar ao redor para descobrirmos os seus sinais. Um reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz. Mas este Reino deve crescer e se implantar, para que Deus seja tudo em todos.

       Jesus Cristo é Rei, mas não nos modelos do mundo. Nós O vemos diante de Pilatos proclamando Seu reinado, mas coroado de espinhos, dando a vida pela salvação de todos. Seu trono é a Cruz, na qual proclama decretos inusitados ao pedir ao Pai o perdão pelos próprios algozes ou ao anistiar o Bom Ladrão. De lá para cá, Seu trono-cruz foi plantado sobre colinas e dentro dos corações. Seu Reino se espalha silencioso, discreto e presente, contando com agentes que podem ser pobres ou ricos, de todas as raças, línguas e nações. Nosso olhar mais atento mostrará sinais de esperança e sadio otimismo.

       A pregação de Jesus é o anúncio do Reino de Deus, uma verdadeira paixão que perpassa todas as Suas palavras. Reino que é comparado com plantas, rebanhos, histórias de pessoas e famílias transformadas em parábolas, para que as pessoas abram o coração e entendam o que Ele diz. Reino que já chegou e há de ser pedido na oração, misterioso! E mistério é algo que sempre pode ser um pouco mais compreendido, nunca se esgota!

Numa de Suas afirmações lapidares, o Senhor proclama “buscai o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas serão dadas por acréscimo” (cf. Mt 6,33). A atualização do Reino de Deus depende de nossa liberdade, pois se trata de uma forma nova de viver, que é proposta e não imposta. Àquelas pessoas que se deixarem provocar pelo Reino de Deus, a Igreja indica para estes dias de fim de ano um caminho de revisão de vida.

       Que valores orientaram as decisões tomadas nos diversos âmbitos da vida pessoal e social? Em torno de nós floresceu o respeito à vida e à dignidade das pessoas? Vivemos para os outros ou cada um se interessou apenas por si mesmo, sem olhar ao redor? Nossos sonhos e projetos incluem o bem comum? E as perguntas podem ser muitas, conduzindo a novas decisões. Não precisaremos buscar adivinhos ou previsões futurológicas para vivermos o novo ano se vivermos bem cada momento presente, iluminados pelos valores do Reino de Deus. Cada surpresa será bem-vinda!
       E o que fazer com as eventuais dificuldades que certamente aparecem pelas esquinas da vida? Elas serão transformadas em novas decisões pelo serviço a Deus e ao próximo, na divina alquimia do amor, lei suprema do Reino de Deus. O tempo do cristão não é apenas o correr inexorável do relógio, mas oportunidade (Kairós!), nova chance oferecida pela Providência Divina. E venha o Reino de Deus e a sua justiça!


Arcebispo de Belém - PA

Foto Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração
Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo
Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor
de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do
Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo
Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado
Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.






segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Aos queridos internautas do Blog GLM e demais visitantes:

       A equipe de Crisma da Capela São Marcos, Divino Espírito Santo e Santa Luzia (Igapó) tem a honra de convidar Vossa Senhoria a prestigiarem a Cerimônia da Unção do Espírito Santo (Crisma) sobre Jovens e Adutos.
       A Cerimônia será realizada neste domingo (28/11) às 16:00 hs na Igreja Divino Espírito Santo (Av. Acarau, Panatis II, Próssimo a Área de lazer) e será Presidida pelo Bispo Dom Matias. Sintan-se todos convidados a prestigiarem o derramamento do Espírito Santo como também toda a comunidade, familiares, amigos e toda a igreja reunida.
       
       Como prometido aos Crismandos, postamos mais músicas e a letra.






 

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

VIDA JOVEM EUCARISTICA



     Neste último domingo (26/09), o tema do Crisma foi Eucaristia: raiz, centro e cume da vida cristã.
     Foi abordado várias áreas relacionadas a este Sacramento: o que é, significado, preparação, participação...
     Foi um encontro maravilhoso onde o sacramento foi apresentado de uma forma bem jovem e atual. Também foi novamente comentado sobre o sermos sinal de Deus para os nossos irmãos que estão a nossa volta. Como prometido, disponibilizo aqui para os crismandos e para você internalta as imgens dos slides para que  conheçam mais sobre este Milagre que vivenciamos a cada celebração. Peço aos alunos do Crisma que visitarem o blog, que deixem seu nome e comentário.

  Neste slide de abertura, nós refletimos um pouco dos sinais de Deus, de Maria e de Jesus em nossa vida.
     A todo momento, lugar, tempo e circunstâncias, estamos arrodeados de sinais divinos. Deus, não está lá no céu. Ele está no coração de cada um, na natureza, numa situação onde, por exemplo, uma pessoa ajuda a outra. Nas mães, vimos bem a imagem de Maria. Enfim, os sinais estão acontecendo a todo o momento. Basta que se abram os olhos.

      Neste silde, comentamos que muitos sinais nós não percebemos. Más isso não acontece somente conosco. Aconteceu com os discípulos de Emaús. Veja este vídeo que fala dos discípulo de Emaús.



     No próssimo Slide, uma pergunta:
 
     Além da alimentação para a sustentação física (do corpo) tem uma outra alimentação espiritual:



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Comunicado

Como todos sabem neste domingo será celebrado um grande evento pela Arquidiocese de Natal.

Em vista que, o grupo foi liberado para este evento e que vão pouquíssimas pessoas e o Crisma já está bem próssimo de terminar (14/11/2010), decidimos eu (Flávio) e Roberto Cunha que vai haver Crisma normal neste domingo às 17:00 que será proferido por mim, com o tema:

terça-feira, 25 de maio de 2010

SÍNDROME

“Sobre a suposta falta de jeito da Dilma como candidata, ou no que a Dilma não é nada como o Lula. Há tempos escrevi que vivíamos num vai e vem entre duas formas de ditadura, a ditadura mesmo e a ditadura da personalidade. Só Dutra, Sarney e Itamar, não por acaso três homens com nenhum carisma, que foram mais transições do que presidentes, escaparam da síndrome. O governo Juscelino foi normal só na fachada, já que poucas vezes uma personalidade determinou a política de uma era como a dele, mesmo respeitando as formalidades democráticas.

A síndrome é antiga. Depois do Estado Novo veio o Dutra, depois da breve volta do Getúlio e dos anos com a grife JK veio o Jânio, uma espécie de apoteose burlesca do poder personalizado.

Depois da renúncia de Jânio, da frustração com Jango, dos vinte anos de governo de generais intercambiáveis e da transição Sarney, Collor, para mostrar que a nação não aprendera com Jânio a desconfiar dos homens providenciais.

Na origem desta alternância entre duas formas de poder excepcional, sem cara ou com cara demais, estava uma descrença nacional com as regras de uma democracia ortodoxa. Só acreditávamos em exceções das regras. Nossas opções eram os ditadores ou os malucos, com curtos intervalos de ortodoxia.
Só a proteção de um Deus, que, se não é brasileiro, é simpatizante, nos poupou de alguém que acumulasse as duas condições, de ditador e doido.

O governo Fernando Henrique, na minha opinião, significou uma volta à ditadura da personalidade. Ele não era nem maluco nem discricionário, mas a soma dos seus atributos pessoais que incluíam desde a simpatia e a boa estampa até a inibição que sua biografia impunha aos críticos lhe dava um poder que só podia ser chamado de exceção. A indulgência da imprensa e do público que o reelegeu se explica pelo fascínio da personalidade. O que seria um presidente realmente moderno, símbolo de uma maturidade política finalmente alcançada, na verdade fazia parte da velha alternância entre o poder autoritário e o poder como sortilégio.

O que veio depois foi, está sendo, um exemplo ainda mais claro desta constante.
Lula continuar com os mesmos índices de popularidade quase no fim do seu governo, apesar do massacre da grande imprensa, mostra que a sua personalidade se impôs a tudo. Nunca antes na história deste país, desde, quem sabe, Getúlio, houve um sortilégio maior que o do Lula, que também não é nem maluco nem totalitário, graças ao nosso amigo Deus.

Dilma no governo seria uma anti-Lula para confirmar a síndrome do nosso vai e vem. Serra, outro sem nenhum sortilégio aparente, também”.
 
Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A santidade da música católica

Hoje é muito difícil pregar para agradar a todos. E a catolicidade da Igreja, hoje, é muitas vezes usada de maneira errada. A música católica é expressão de vida, de grande amor por Jesus, e contém esse caráter de expiação, de dor, amor e alegria pelo Senhor. E nós, e aqueles que são chamados a dar a vida através da música, precisamos conhecê-la.

Busquei algumas coisas sobre a música sacra dentro da nossa Igreja neste livro do Padre Gabriele Amorth, que nos ensina a cantar com a nossa vida.

O que é profano não tem como entrar, pois não consegue aderir ao sagrado que é a Igreja. É como água e óleo. Nós não temos a intenção de condenar a ninguém, mas sim que todos tenham um encontro pessoal com o amor do Senhor. Nós queremos orientar.

Este livro, todo músico católico deveria ler. "É certo, porém, que a música que leva o coração a adoração em Espirito e Verdade, não pode levar ao êxtase e a sensualidade".
Vejam, amados jovens. Vocês que gostam do rock, axé e samba. É muito difícil purificar essas coisas, porque o ritmo vai expressando a sensualidade do corpo. E nós vamos pensando que tudo é em nome da conversão. Cuidado!As seitas também fazem isso.
Outra realidade que hoje também é muito perigosa: perder a simplicidade. Cuidado com o modo de vestir e a sensualidade nas roupas para cantar.
Eu gostaria que vocês lessem esse artigo de pesquisas realizadas que mostram jovens batendo a cabeça uns nos outros nos shows de música católica. O músico católico é aquele que canta a sua vida, canta a Tradição da Igreja, aquilo que ele crê. Eu canto para a glória da Igreja, e não para o meu interesse pessoal. E é preciso escutar as orientações da Igreja.
Eu estou falando como pastor. Cuidado! Nós não precisamos imitar o que é profano. O Espirito Santo pode nos dar o que é mais lindo. Por isso, o músico deve cantar a Deus, cantar a dor. É preciso cantar a renúncia, que damos o nosso suor naquilo que vivemos.

Eu não sou ministro de música. Sou um sacerdote de Deus, como tantos neste Brasil. Mas o que queremos é cada vez mais honrar a nossa música católica. Por isso, não cabe música protestante na nossa Liturgia Católica. Não podemos abrir para termos aquilo que não acredita na Liturgia Católica, que é do céu.
O musico católico não é um produto. Não se sinta um produto. O seu canto não é um produto, porque de graça recebemos, de graça damos.

Hoje, muitos dos nossos pobres não têm acesso à música católica e não podem mais ir a um show, porque não podem pagar. Muitas vezes, imitam-se as coisas do mundo, de que é preciso ganhar dinheiro. E o Senhor disse: "de graça recebestes, de graça deveis dar".

É preciso a comunhão no mundo da música católica. Um grupo evangélico construiu um grande estúdio de gravação só para eles, com os direitos autorais de músicas que um padre gravou. Não é verdade que para a Igreja Católica pode tudo, que pode colocar todos os ritmos na liturgia Isso não é verdade, porque ela tem a sua essência. E é para o louvor da Igreja que estamos aqui.

Senhor faz passar a reparação pelo coração dos cantores e das cantoras católicas, porque o nosso cantar é único. E não é orgulho não, é muito da nossa alma. E o noso tesouro é imenso. Não copie o que é profano.
Com muito amor, diz o padre Gabrielli, que o rock é um grito de rebeldia do demônio contra Deus. E isso fica muito claro nas músicas de rock satânico. A conversão é um dom de Deus e não depende daquilo que você está escutando.

E disse o nosso Santo Padre, o Papa Bento XVI: “Sem recolhimento não há profundidade”. E o Espirito Santo tem falado porque a juventude não tem se convertido como antes. Não estou falando de silêncio exterior, mas de recolhimento interior. Por que você precisa ouvir o que Deus está falando a você naquele momento de uma música de louvor.

Quando eu ia aos encontros de louvor, quando o músico falava, quando ele fechava os olhos, a música ficava em segundo lugar, porque ele estava ali expressando a busca de santidade da sua vida, que é o que leva a conversão. Se houver uma contradição entre as duas formas de comunicação – a verbal e aquilo que a pessoa está vendo – o que a pessoa vê, fica abatido por aquilo que se está ouvindo.

O rock religioso leva o seu seguidor de volta ao rock secular. Filho e filha, o Hallel é uma certeza de que muitos jovens serão levados a um impacto com Deus. E os jovens querem chegar aqui e ter um impacto com o céu. Aqui, eles querem encontrar o novo, porque o que era velho se faz novo. E o magnificat da Virgem deve ecoar em todo este lugar, deve arrastar o jovem que está nas drogas, na prostituição para este lugar. Que eles venham, porque aqui eles vão encontrar Deus.

A Igreja Católica não precisa de artistas, mas de santos. A juventude precisa escutar aquilo que é de Deus e não aquilo que eles querem escutar. Nem tudo é mel, mas tem também a dor da picada da abelha. É preciso a dor. E não dá para cantar axé, rock sem que o ritmo os leve à sensualidade. Quantos pecados entram por causa do ritmo do rock... Porque a porta está aberta.

Você não veio aqui só para se divertir. Canta para Deus!

Transcrição: Célia Grego FONTE: Canção Nova

terça-feira, 20 de abril de 2010

PASSEIO SOCRÁTICO

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz nos seus mantos cor de açafrão. 

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não; minha aula é à tarde". Comemorei: "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais". "Não", ela retrucou, "tenho tanta coisa de manhã...". "Que tanta coisa?", indaguei. "Aulas de inglês, balé, pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: "Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’".

A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil -com raras e honrosas exceções-, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!". O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz."

Frei Betto